Fagologia e cismogênese
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v25i1.5061Palavras-chave:
Antropofagia; Cosmologia; Cosmopolítica; Imunologia; Ontologia; Perspectivismo.Resumo
Motivada por uma colocação de Eduardo Viveiros de Castro em seu prefácio ao livro Antropofagia – Palimpsesto Selvagem, de Beatriz Azevedo, a noção de “fagologia” busca suprir, na economia conceitual de minha tese de doutorado, O Anti-Orfeu: por uma esferologia do ponto de vista do espectral, a carência de um conceito adequado para designar e escalonar diferentes esquemas de relação entre ontologias e para organizar alguns pares conceituais ramificados a partir da relação nuclear “eu–outro”, atravessados cada qual e entre si por uma dinâmica intrinsecamente perspectivista. Neste artigo, considerando a possível pertinência do conceito para pesquisas afins, pretendo: (1) apresentar os principais componentes do conceito, organizados em torno dos pares lógos–phágos (modos de relação com a alteridade) e topologia lógica–topologia fágica (planos topológicos); (2) desdobrar sua aplicação em dois tipos ideais simetricamente opostos (a “imunologia” e a “antropofagia”); e (3) articular, na forma dupla de um diagnóstico-prognóstico, a maneira como esses tipos ideais se relacionam, na intersecção entre o conceito de fagologia e o conceito de “cismogênese”, cunhado por Gregory Bateson e retrabalhado por autores como Viveiros de Castro, David Graeber, David Wengrow, Michael Houseman e Carlo Severi.
Downloads
Referências
AGAMBEN, G. Il linguaggio e la morte: un seminario sul luogo della negatività. Torino: Piccola Biblioteca Einaudi, 2008.
ALBERT, B. “O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza (Yanomami)”. In: ALBERT, B.; RAMOS, A.R. Pacificando o branco: cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: Ed. Unesp; IRD, 2002, p. 239-270.
ALMEIDA, M. “A fórmula canônica do mito”. In: QUEIROZ, R.C.; NOBRE, R.F. [org.]. Lévi-Strauss: Leituras brasileiras. 2.ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013, p. 161-199.
ANDRADE, O. Obras Completas VI: Do Pau-Brasil à antropofagia e às utopias: manifestos, teses de concursos e ensaios. v.6. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
BATESON, G. Naven: um esboço dos problemas sugeridos por um retrato compósito, realizado a partir de três perspectivas, da cultura de uma tribo da Nova Guiné. 2.ed. Trad. de M. Lopes. São Paulo: Edusp, 2006.
BATESON, G. Steps to an Ecology of Mind. Chicago; Londres: The University of Chicago Press, 1999.
BÍBLIA. Novo Testamento: Os quatro Evangelhos. Trad. de F. Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
CHERNO, M. “Feuerbach’s ‘Man is what He Eats’: A Rectification”. Journal of the History of Ideas, v.24, n.3, p. 397-406, jul.-set. 1963. DOI 10.2307/2708215
CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. Trad. de T. Santiago. São Paulo: Ubu, 2020.
DANOWSKI, D.; VIVEIROS DE CASTRO, E. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. 2.ed. Florianópolis: Cultura e Barbárie; ISA, 2017.
DELEUZE, G. Crítica e clínica. Trad. de P.P. Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1997.
DELEUZE, G. Lógica do sentido. Trad. de L.R.S. Fortes. São Paulo: Perspectiva, 2015.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka: por uma literatura menor. Trad. de C.V. da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 4. Trad. de S. Rolnik. São Paulo: Ed. 34, 1997.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 3. 2.ed. Trad. de A.G. Neto [et al.]. São Paulo: Ed. 34, 2012a.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 5. 2.ed. Trad. de P.P. Pelbart e J. Caiafa. São Paulo: Ed. 34, 2012b.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a Filosofia?. 3.ed. Trad. de B. Prado Jr. e A.A. Muñoz. São Paulo: Ed. 34, 2010.
DUSSEL, E. Siete ensayos de Filosofía de la Liberación: hacia una fundamentación del giro decolonial. Madrid: Ed. Trotta, 2020.
FEUERBACH, L. El hombre es lo que come. Trad. de L.S. Marín e P.U. Rodriguez. Medellín: Ennegativo, 2022.
GORDON, S. “Phagocytosis: An Immunobiologic Process”. Immunity, v.44, n.3, p. 463-475, 15 mar. 2016. DOI 10.1016/j.immuni.2016.02.026
GRAEBER, D.; WENGROW, D. The Dawn of Everything: A New History of Humanity. Toronto; New York: Penguin Random House, 2023.
HARAWAY, D.J. Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene. Durham: Duke University Press, 2016.
HEIDEGGER, M. Unterwegs zur Sprache. v.12. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1985.
HEIDEGGER, M. Wegmarken. v.9. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1976.
HOUSEMAN, M.; SEVERI, C. Naven or the other self: a relational approach to ritual action. Trad. de M. Fineberg. Leiden; Boston; Köln: Brill, 1998.
INDIGENOUS ACTION. Rethinking the Apocalypse: An Indigenous Anti-Futurist Manifesto, 19 mar. 2020. Disponível em <http://www.indigenousaction.org/rethinking-the-apocalypse-an-indigenous-anti-futurist-manifesto/>, acesso em 8 nov. 2024.
KITTLER, F. “Eros and Aphrodite”. In: KITTLER, F. The Truth of the Technological World: Essays on the Genealogy of Presence. Trad. de E. Butler. Stanford: Stanford University Press, 2013, p. 249-258.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Trad. de B. Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
LATOUR, B. Facing Gaia: eight lectures on the new climate regime. Cambridge: Polity Press, 2017.
LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Trad. de B. Perrone-Moisés. São Paulo: Ubu, 2017.
LUDUEÑA ROMANDINI, F. Princípios de espectrologia: A comunidade dos espectros II. Trad. de L. D’Avila e M.A. Valentim. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.
LÜTTLICKEN, S. “Capitalism and Schismogenesis, Part 1”. e-flux, n. 138, p. 1-12, set. 2023a.
LÜTTLICKEN, S. “Capitalism and Schismogenesis, Part 2”. e-flux, n. 138, p. 1-9, out. 2023b.
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. Trad. de P.C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
PITTA, M.F. “Um ensaio de um ‘Anti-Orfeu’: perspectivismo cosmológico como contraponto à esferologia de Sloterdijk”. Griot, v.19, n.3., p. 177-196, 2019. DOI 10.31977/grirfi.v19i3.1284
PITTA, M.F. O Anti-Orfeu: por uma esferologia do ponto de vista do espectral. Tese (Doutorado em Filosofia). Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal do Paraná, 2022, 388 f.
PLATÃO. Fedro. Trad. de J.C. de Souza. São Paulo: Ed. 34, 2016.
PLUMWOOD, V. “Politics of Reason: Towards a feminist logic”. Australasian Journal of Philosophy, v.71, n.4, p. 436-462, 1993. DOI 10.1080/00048409312345432
SLOTERDIJK, P. Nicht gerettet: Versuche nach Heidegger. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2001.
SLOTERDIJK, P. Sphären I (Mikrosphärologie): Blasen. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1998.
SLOTERDIJK, P. Sphären II (Makrosphärologie): Globen. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1999.
SLOTERDIJK, P. Sphären III (Plurale Sphärologie): Schäume. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2004.
SPINOZA, B. Ética; Ethica. Ed. bilíngue. Trad. do Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: Edusp, 2018.
STENGERS, I. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. Trad. de E.A. Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
STENGERS, I. “The cosmopolitical proposal”. In: LATOUR, B.; WEIBEL, P. [org.]. Making things public: atmospheres of democracy. Cambridge: MIT Press, 2005, p. 994-1003.
STOLZE LIMA, T. “O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi”. Mana, v.2, n.2, p. 21-47, 1996. DOI 10.1590/S0104-93131996000200002
STOLZE LIMA, T. Um peixe olhou para mim: o povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo; Rio de Janeiro: Ed. UNESP; ISA; NuTI, 2005.
TOURNIER, M. Sexta-feira ou os limbos do Pacífico. Trad. de F. Botelho e J. Rezende. Rio de Janeiro: BestBolso, 2014.
VALENTIM, M.A. Extramundanidade e sobrenatureza: ensaios de ontologia infundamental. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.
VAN DER KUYL, A.C.; DEKKER, J.T.; GOUDSMIT, J. “Discovery of a new endogenous type C retrovírus (FcEV) in cats: evidence for RD-114 being na FcEV(Gag-Pol)/baboon endogenous virus BaEV(Env) recombinant”. Journal of virology, v.73, n.10, p. 7994-8002, 1999. DOI 10.1128/JVI.73.10.7994-8002.1999
VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; ANPOCS, 1986.
VIVEIROS DE CASTRO, E. From the Enemy’s Point of View: Humanity and Divinity in an Amazonian Society. Trad. de C.V. Howard. Chicago; London: The University of Chicago Press, 1992.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify; n-1, 2015.
VIVEIROS DE CASTRO, E. “Que temos nós com isso?”. In: AZEVEDO, B. Antropofagia – Palimpsesto Selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2016, p. 11-19.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Radical Dualism: A Meta-Fantasy on the Square Root of Dual Organizations, or a Savage Homage to Lévi-Strauss; Radikaler Dualismus: Eine Meta-Fantasie über die Quadratwurzel dualer Organisationen oder Eine wilde Hommage an Lévi-Strauss. Ed. bilíngue. Trad. de C. Brandt e I. Marter. Kassel: Hatje Cantz, 2012.
WITTGENSTEIN, L. Philosophical Investigations. Trad. de G.E.M. Anscombe, P.M.S. Hacker e J. Schulte. Chichester: Wiley-Blackwell, 2009.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. de D.F. Pears e B.F. McGuiness. London; New York: Routledge, 2001.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Maurício Fernando Pitta

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores que publicam na Griot : Revista de Filosofia mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitindo compartilhamento e adaptação, mesmo para fins comerciais, com o devido reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista. Leia mais...