A PRÁTICA NA MEDICINA TRADICIONAL INDÍGENA E A FILOSOFIA DO BEM VIVER NOS CUIDADOS EM SAÚDE: UM RECORTE NO BRASIL

The practice of traditional indigenous medicine and the philosophy of good living in health care: a view of brazil

Resumo

Introdução: Esse artigo expõe a medicina tradicional dos povos indígenas do Brasil, fazendo um recorte da trajetória do cuidado da população indígena, além de citar brevemente problemáticas enfrentadas. Discorre sobre o bem viver para além de um espaço geográfico ou ter acesso a água limpa e alimentação saudável, mas como a natureza reflete nos seus cuidados, inclusive através das Práticas Integrativas Complementares. Faz uma linha do tempo até a instituição da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Objetivo: Refletir sobre a prática da medicina tradicional dos povos indígenas do Brasil, seu reconhecimento e importância no cuidado à saúde, e a filosofia do Bem Viver na perspectiva dos povos originários. Metodologia: Este estudo se baseou na busca retrospectiva de artigos científicos, monografias, documentos e manuais, teses, dentre outros, utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A consulta foi realizada através de busca no banco de dados do PubMed, Google Acadêmico, BVS, Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Lilacs. Após leitura dos artigos percebe-se a potência e os desafios no encontro das Práticas de Saúde Indígena junto às dinâmicas de Saúde Pública no contexto brasileiro atualmente. Combinaram-se algumas formas de construção das informações a partir dos materiais da disciplina Medicinas Tradicionais, Práticas Integrativas e complementares ministrada no Programa de Pós-graduação - PPG Saúde da população Negra e Indígena da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Resultado e discussões: Esses saberes enfrentaram a deslegitimação de seus conhecimentos. O Bem Viver surge como contraponto ao modelo de desenvolvimento econômico mundial, do individualismo e racionalismo, para uma filosofia de vida de integração e socialização das relações eu-outro-ambiente, trazendo a recuperação de saberes tradicionais. Conclusão: Apesar dos benefícios da medicina tradicional, a medicina hegemônica ainda ocupa o protagonismo como tratamento e busca pela “cura”. O que a filosofia do bem viver indígena constrói são campos de resistências e ações que inibam a autodestruição das vidas. A luta pelo bem viver engloba várias lutas que atravessam nossos contextos como desigualdades, iniquidades, racismo, renda, posses, sustentabilidade, cidadania, direitos humanos, políticas públicas, diversidade, futuro, entre outras.

Palavra-chave:  Saúde dos Povos Indígenas. Bem viver. Estudos Decoloniais. Descolonização.

Abstract

Introduction: This article presents the traditional medicine of the indigenous peoples of Brazil, providing an overview of the history of care provided to the indigenous population, in addition to briefly mentioning the problems faced. It discusses the concept of good living beyond a geographic space or having access to clean water and healthy food, but also how nature reflects on its care, including through Complementary Integrative Practices. It provides a timeline up to the establishment of the National Policy for Health Care for Indigenous Peoples. Objective: to reflect on the practice of traditional medicine of the indigenous peoples of Brazil, its recognition and importance in health care, and the philosophy of Good Living from the perspective of the original peoples. Materials and methods: This study was based on a retrospective search of scientific articles, monographs, documents and manuals, theses, among others, using the terminologies registered in the Health Sciences Descriptors (DeCS) created by the Virtual Health Library (BVS). The research was carried out through a search in the PubMed, Google Scholar, BVS, Scientific Electronic Library Online (Scielo) and Lilacs databases. After reading the articles, one can see the power and challenges in the encounter between Indigenous Health Practices and the dynamics of Public Health in the current Brazilian context. Some forms of information construction were combined from the materials of the Traditional Medicines, Integrative and Complementary Practices discipline taught in the Postgraduate Program - PPG Health of the Black and Indigenous Population of the Federal University of Recôncavo da Bahia. Results and discussions: These knowledges faced the delegitimization of their knowledge. Good Living emerges as a counterpoint to the global economic development model, of individualism and rationalism, for a philosophy of life of integration and socialization of self-other-environment relationships, bringing about the recovery of traditional knowledge. Conclusion: Despite the benefits of traditional medicine, hegemonic medicine still occupies the leading role as treatment and search for a “cure”. What the indigenous philosophy of good living builds are fields of resistance and actions that inhibit the self-destruction of lives. The fight for good living encompasses several struggles that permeate our contexts, such as inequalities, inequities, racism, income, possessions, sustainability, citizenship, human rights, public policies, diversity, the future, among others.

Keywords: Health of Indigenous Peoples. Living well. Decolonial Studies. Decolonization.

Referências

ACOSTA, Alberto. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Autonomia Literária, Elefante, 2016. 264 p.

ALCÂNTARA, Liliane; SAMPAIO, Carlos. Bem Viver: uma perspectiva (des)colonial Das comunidades indígenas. Rev. Rupturas, v. 7, n. 2, Costa Rica, jul./dez, 2017, p. 1-31.

ALMEIDA, S. O que é racismo estrutural? Coleção Feminismos Plurais. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

BEZERRA, Patricia A.; CAVALCANTI, Pauline; MOURA, L. de A. Colonialidade e saúde: olhares cruzados entre os diferentes campos .Physis: Revista de Saúde Coletiva , 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/Rw4fbt4QXGdWFnJhgTrwG5z/

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 16ª edição, São Paulo: Saraiva, 1997.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria Nº 702, de 21 de março de 2018. Disponível em: Minist�rio da Sa�de (saude.gov.br)

Declaração de Alma-Ata. Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde; 6-12 de setembro 1978; Alma-Ata; USSR. In: Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde

HOOGASIAN, R. & LIJTMAER, R. Integrating Curanderismo into counseling and psychotherapy. Counselling Psychology Quarterly, 23(3), 297-307. Recuperado de http://www.socsci.uci.edu/~castellj/clfm/webdocs/Week%206/Required/Integrating%20Curanderismo%20into%20counselling%20and%20psychotherapy%202010.pdfhttp://www.socsci.uci.edu/~castellj/clfm/webdocs/Week%206/Required/Integrating%20Curanderismo%20into%20counselling%20and%20psychotherapy%202010.pdf 

FERREIRA, Luciane Ouriques. A emergência da medicina tradicional indígena no campo das políticas públicas. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 20, n.1, jan./mar. 2013, p. 203-219.

GEWEHR, Rodrigo Barros, BAETA, Jéssica, GOMES, Emanuelle, TAVARES, Raphael. Sobre as práticas tradicionais de cura: subjetividade e objetivação nas propostas terapêuticas contemporâneas. Psicol USP [Internet]. 2017Jan;28(1):33–43. Available from: https://doi.org/10.1590/0103-656420150092

JÚNIOR, Dailor S.; LEIVAS, Paulo G. C.O direito à saúde dos povos indígenas e o paradigma do reconhecimento. Rev. Direito e Práx., v. 8, n. 1, mar. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdp/a/NTmTvNRxCbvxH6JLFGptLBr/?lang=pt.

JUSTINO, Gilliard O.; “JUREMA, SUA FOLHA CURA E SUA FLECHA MATA”. Os sentidos de Saúde e Doença na Jurema Sagrada. Dissertação de Mestrado. Programa dePós-graduação em Ciências Sociais-UFCG. Campina Grande, 2010. Disponível em:

http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/bitstream/riufcg/1235/3/GILLIARD%20DE%2OLIVEIRA%20JUSTINO%20%20DISSERTA%c3%87%c3%83O%20PPGCS%20CH%202016 .pdf .

KRENAK, Ailton. Futuro é ancestral. Editora Companhia das Letras, ano de 2022. 

LINS, D. A. S. (2013). A benzeção em Santa Maria: a permanência de tradições de cura no contexto da contemporaneidade. Revista Latino-Americana de História, 2(6), 569-581. Recuperado http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/216/170 » http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/216/170

LUZ, M. T. (2005). Cultura contemporânea e medicinas alternativas: novos paradigmas em saúde no fim do século XX [Suplemento]. Physis, 15, 13-43. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/physis/v15s0/v15s0a08.pdf

NASCIMENTO, Renata. Saberes tradicionais indígena sobre cuidados em saúde. Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Odontologia, Farmácia e Enfermagem. Departamento de Enfermagem. Fortaleza - CE, 2019.

OMS, Organização Mundial da Saúde. Estratégias de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Genebra: Organização Mundial da Saúde. 2002.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino- americanas. Buenos Aires, Colección Sur Sur, 2005.

SCHWARCZ, L. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na sociabilidade brasileira. Claro Enigma, 2012.