EDUCAÇÃO POPULAR E RACISMO NO CAMPO DA SAÚDE

Popular education and racism in the health field

Autores

Resumo

Neste estudo teve por objetivo analisar a comunicação de caráter pedagógica entre profissional/usuário, a implicação do racismo estrutural que se encontra presente nesta práxis e sua implicação no vínculo. A priori, será imprescindível conceituar o racismo estrutural e teorizar sua implicação no âmbito na saúde, também a prática da educação em saúde como artifício à promoção do cuidado ético-político. Ademais, enquanto artifício presente nos atendimentos, que tensiona com o racismo estrutural e o sofrimento ético-político, será tentada uma articulação teórica que sustentará o objetivo. Assim, será feita uma breve contextualização do racismo estrutural, pela obra de Silvio Almeida, Racismo Estrutural, e a educação popular como práxis formativa de cuidado e vinculação respeitosa e empática, presente na obra de Paulo Freire, Educação como prática da liberdade. A metodologia realizada foi através de um trabalho teórico-conceitual de cunho epistemológico sobre os consultórios, apresentando as falhas dialógicas na comunicação, o sentimento de inferiorização do negro, a produção de um sofrimento fruto do antidiálogo paulofreiriano e as formas de resistências e ludibriações contra hegemônicas. No desenvolvimento será discorrido a experiência do racismo no campo da saúde como formadora concreta de um sofrimento ético-político, que orienta a relação hierárquica de poder geradora de vergonha, afeto que traduz um sentimento norteador à inferioridade. Sobretudo, um impacto na subjetivação dos usuários e profissionais negros, a saber das possíveis implicações do racismo no campo da saúde. Nos resultados e discussões foi percebido a possível ausência de um caráter pedagógico na comunicação entre profissional/usuário e a produção de um sofrimento específico à está a liabilidade, qualificada por um racismo estrutural que obstrui a vinculação, através de desconfiabilidade, antidiálogo e verticalidade. Na consideração final, dada a ênfase ao referencial bibliográfico paulo freiriano e fanoniano, os quais propõem princípios na comunicação em saúde utilizando-se de horizontalidade, dialogicidade e promoção de autonomia, propor o antirracismo como instrumento possível para o estabelecimento de vínculo com teor ansiogênico mínimo e de maior eficácia na práxis pedagógica nos atendimentos. Em adjunção, maior confiabilidade na vinculação terapêutica e, desta maneira, maior êxito frente às queixas, mesmo que, estritamente, biológicas. Também, o artigo considera o recurso político como engrenagem para o avanço identitário em prol de uma consolidação de equidade maior no tratamento clínico.

Palavras-chave: Racismo. Educação popular. Atendimento médico. Sofrimento ético-político.

Abstract

The objective of this study was to analyze the pedagogical communication between professional/user, the implication of structural racism present in this praxis, and its implication on the therapeutic bond. Primarily, it will be essential to conceptualize structural racism and theorize its implication in the realm of health, as well as the practice of health education as a means to promote care. Furthermore, as an instrument present in healthcare services, which would tensionate structural racism and ethical-political suffering, a theoretical articulation between the elements will be necessary to support the objective. A brief contextualization of structural racism will be provided, drawing from Silvio Almeida's work, "Racismo Estrutural," and popular education as a formative praxis of caring and respectful empathetic connection, as presented in Paulo Freire's work, "Educação como prática da liberdade". The method will be carried out through a theoretical-conceptual work of epistemological nature regarding medical care in clinics, presenting dialogical failures in communication, the feeling of black inferiorization, the production of suffering resulting from the lack of dialogue in the spirit of Paulo Freire and the way there’s resistance towards oppression. The development will elaborate on the intersectional experience as a concrete formative factor of ethical-political suffering, which guides the hierarchical power relationship that produces shame, an affection that translates a feeling of direction towards inferiority. Above all, an impact on the subjectivation of the black users and professionals, in light of the possible implications of racism in the therapeutic bond, will be discussed. In the Results and discussions, the absence of a pedagogical character in the communication between professional/user will be perceived, as well as the production of a specific suffering related to this liability, characterized by structural racism that obstructs bonding through distrust, lack of dialogue, and verticality. In the final consideration, emphasis will be given to the Paulo Freirean and Fanonian bibliographic references, which propose principles in health communication using horizontality, dialogicity, and promotion of autonomy, suggesting anti-racism as a possible instrument for establishing bonds with minimal anxiety-inducing content and greater efficacy in pedagogical praxis in healthcare services. Additionally, greater reliability in therapeutic bonding and, thus, greater success in addressing complaints, even if strictly biological. That is, the article also considers political resources as gears for identity advancement towards a greater consolidation of equity in treatment.

Keywords: Racism. Popular education. Medical care. Ethical-political suffering.

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Publicado

2024-12-29