A MASCULINIDADE E A SAÚDE MENTAL DOS HOMENS NEGROS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Masculinity and mental health of black men: an integrative literature review
Resumo
Introdução: A masculinidade hegemônica foi entendida como um padrão de práticas que possibilitou, além da dominação dos homens sobre as mulheres, um local de superioridade para com outros padrões de masculinidades previamente excluídos a partir das normas de gênero atribuídas ao sexo biológico. Nesse contexto, e partindo do pressuposto de que além de generificados, somos racializados, temos ambos, gênero e raça, influenciando no processo de adoecimento de homens, em especial, na sua saúde mental. Objetivo: o presente trabalho tem como objetivo analisar as produções, na literatura, a respeito dos efeitos da masculinidade hegemônica na saúde mental dos homens negros. Metodologia: trata de uma revisão integrativa da literatura, utilizando Scientific Electronic Library Online (SciELO) Web of Science, National Library of Medicine (PubMed/Medline) e Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) como bases de dados para coleta que ocorreu entre Julho e Outubro de 2022. A partir dessa busca, foram selecionados 14 artigos, sistematizados em uma tabela com as informações centrais após a leitura exaustiva. Resultados e discussões: os estudos concordam que, para população de homens negros, os determinantes de saúde mental vão perpassar tanto pelos estresses cotidianos referentes à discriminação racial, quanto pelos padrões de masculinidade que vão ditar para além do papel de provedor, aspectos da hiperssexualização, da virilidade e da demonstração de força. Foram encontradas também relações entre os sofrimentos mentais e classe social. Outros estudos incluídos puderam contemplar os aspectos referentes à sexualidade na medida em que imprimem a presença do estigma relacionado à orientação e à identificação sexual como predito de sofrimento mental maior. Conclusões: foi possível determinar uma relação com aspectos da raça como determinantes de sofrimento mental, porém pela escassez de literatura nacional, pôde-se inferir que há necessidade de uma maior discussão sobre como o acolhimento para esses homens para que esse passe a acontecer de forma condizente com suas realidades no intuito de minimizar os efeitos deletérios na saúde mental, considerando que padrões hegemônicos de masculinidade fazem parte tanto da complexa sociogênese do sofrimento de homens como também interferem nas formas de cuidado desse público.
Palavras-Chave: Masculinidade. Saúde Mental. Saúde das Minorias Étnicas.
Abstract
Introduction: Hegemonic masculinity has been understood as a set of practices that not only enables the domination of men over women but also establishes a hierarchy among different forms of masculinity, often marginalizing those that do not conform to traditional gender norms associated with biological sex. In this context, it is important to recognize that individuals are both gendered and racialized, with both factors influencing the health of men, particularly their mental health. Objective: this study aims to analyze the literature on the effects of hegemonic masculinity on the mental health of black men.:. Methodology: an integrative literature review was conducted using the databases Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science, National Library of Medicine (PubMed/Medline), and Biblioteca Virtual da Saúde (BVS). This Data collection occurred between July and October 2022, resulting in the selection of 14 articles, which were systematically reviewed and summarized. Results and discussions : The reviewed studies indicate that for black men, mental health determinants can be seen through daily and stressful situations related to racial discrimination and societal expectations of masculinity. These expectations often involve roles such as being a provider, exhibiting hypersexualization, virility, and displaying strength. Additionally, the studies found a correlation between mental distress and social class. Some studies also addressed issues related to sexuality, noting that stigmatization related to sexual orientation can lead to increased mental suffering. Conclusions: The review identified a significant relationship between race and mental suffering. However, due to the limited national literature on this topic, there is a need for more extensive discussion and research to ensure that the care provided to black men aligns with their specific realities, thereby mitigating the negative impacts on their mental health. This is crucial as hegemonic standards of masculinity contribute to both the sociogenesis of men's suffering and the ways in which they receive care.
Keywords: Masculinity. Mental health. Health of Ethnic Minorities.
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