ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DE GÊNERO E RAÇA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Access to health services from the perspective of gender and race: an integrative review
Resumo
Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre a interferência das questões de gênero e raça no acesso aos serviços de saúde. Trazendo como questão norteadora: o que os profissionais de saúde podem fazer para diminuir essa linha que interfere entre a busca e o cuidado à saúde por estas pessoas? A inserção do quesito raça/cor nos sistemas de informação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi de extrema relevância para produção de informações epidemiológicas e o diagnóstico da prevalência das doenças que mais afetam a população negra, assim como possibilitou a implementação de estratégias de controle e fortalecimento social a fim de alcançar a equidade em saúde e igualdade racial. Questões históricas que atravessam a constituição do que se conhece por “gênero”, que por muito tempo foi usado, restritivamente, para descrever a distinção entre o masculino e o feminino limitando-se as características biológicas atreladas ao sexo e mais estritamente as genitálias, associando o órgão sexual pênis ao gênero masculino e a vagina ao feminino. A partir do século XX através de lutas de mulheres pesquisadoras, historiadoras e feministas, o caráter do termo gênero começa a ser usado para definir sistemas de relações sociais, desigualdade, racismo, política e poder, tornando-o uma categoria analítica. Nesse sentido, falar de “gênero e raça” e relacionar as questões que interferem na práxis do profissional de saúde e também na relação deste com seu paciente, possibilita a ampliação de perspectivas, ademais, assume-se uma perspectiva de gênero enquanto construção social e cultural que pode ou não estar associado a um determinado órgão genital, isto é, sexo biológico, nesse sentido o sexo (órgão genital) e o gênero não são necessariamente análogos. Como metodologia este estudo foi baseado em pesquisas bibliográficas de maior relevância publicadas nos anos de 2015-2020 nas bases eletrônicas Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), foram selecionados para análise final 07 artigos. Em todos os artigos encontrados foi unânime a conclusão da necessidade de sensibilização e capacitação dos profissionais para atender/ conhecer as demandas de uma população que é maioria no país. As subnotificações e a ausência do preenchimento da variável cor nos documentos de saúde, dificulta pesquisas e avaliações da saúde das mulheres negras no Brasil. É importante trazer o debate da questão da declaração racial para os espaços de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Raça. Atenção Primária à Saúde.
Abstract
This study aimed to conduct an integrative literature review on the influence of gender and race issues on access to health services. The guiding question was: what can health professionals do to bridge the gap that affects the pursuit and care of health for these individuals? The inclusion of the race/color variable in the information systems of the Unified Health System (SUS) has been extremely relevant for producing epidemiological data and diagnosing the prevalence of diseases that most affect the Black population. It has also enabled the implementation of control strategies and social strengthening aimed at achieving health equity and racial equality. Historical issues that have shaped what is known as “gender” have long been used restrictively to describe the distinction between male and female, limiting it to biological characteristics associated with sex, specifically the genitalia, linking the penis to the male gender and the vagina to the female. Beginning in the 20th century, through the struggles of women researchers, historians, and feminists, the term gender started to be used to define systems of social relations, inequality, racism, politics, and power, making it an analytical category. In this sense, discussing “gender and race” and relating the issues that interfere in the practice of health professionals and their relationship with patients allows for broader perspectives. Furthermore, a gender perspective is adopted as a social and cultural construct that may or may not be associated with a specific genital organ, meaning that biological sex (genital organ) and gender are not necessarily analogous. As a methodology, this study was based on bibliographic research of the most relevant publications from 2015-2020 in the Virtual Health Library (BVS), from which 7 articles were selected for final analysis. In all the articles found, there was a unanimous conclusion about the need for awareness-raising and training of professionals to meet the demands of a population that is the majority in the country. Underreporting and the absence of the race variable in health documents hinder research and assessments of the health of Black women in Brazil. It is important to bring the debate on racial declaration into health spaces.
Keywords: Gender. Race. Primary Health Care.
Referências
BATISTA, Luis Eduardo Batista; BARROS, Sônia. Enfrentando o racismo nos serviços de saúde. Cadernos de Saúde Pública, p. 1-5 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. – 2. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, 2003, p. 1-16. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/Zs869RQTMGGDj586JD7nr6k/?lang=pt.
CRENSHAW, Kimberle. “Documento para encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero”. Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 1, p. 171-188, 2002.
GUIBU, Ione Aquemi; MORAES, José Cássio de; JUNIOR GUERRA, Augusto Afonso; COSTA, Ediná Alves Costa; ACURCIO, Francisco de Assis; COSTA, Karen Sarmento; KARNIKOWSKI, Margô Gomes de Oliveira; SOEIRO, Orlando Mario; LEITE, Silvana Nair; ÁLVARES, Juliana Álvares. Características principais dos usuários dos serviços de atenção primária à saúde no Brasil. Revista de Saúde Publica, 2017, p. 1-13.
JUNIOR COSTA, Florêncio Mariano da; COUTO, Marcia Thereza. Geração e categorias geracionais nas pesquisas sobre saúde e gênero no Brasil. Saúde Soc. São Paulo, v.24, n.4, p.1299-1315, 2015.
MESQUITA FILHO, Marcos; MARQUES, Thaline Figueiredo; ROCHA, Ana Beatriz Cavalcanti; OLIVEIRA, Suellen Ramos de; BRITO, Maíra Barbosa; PEREIRA, Camila Claudiano Quina. O preconceito contra a mulher entre trabalhadores da Atenção Primária em Saúde. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 2018, p. 1-14.
MUNANGA, K. Negritude e identidade negra ou afrodescendente: um racismo ao avesso? Revista da ABPN, 4(8),6-14. 2012.
RODRIGUES, Kamilla Zampieri; MATTOS, Camila Ferreira Pires; FERREIRA, Dariele Aparecida; KOCH, Luiza Foltran de Azevedo; SCHMITT, Ernesto Josué; GABARDO, Marilisa Carneiro Leão. Grau de satisfação entre os usuários de uma unidade básica de saúde no estado do Paraná, Brasil. Scientia Medica, 2018, 1-10.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade 1995, p. 1-29.
SIQUEIRA, Sandra Aparecida Venâncio de; HOLLANDA, Eliane; MOTTA, José Inácio Jardim. Políticas de Promoção de Equidade em Saúde para grupos vulneráveis: o papel do Ministério da Saúde. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 2017, p. 1-10.
WERNECK, Jurema. Racismo institucional e saúde da população negra. Revista Saúde Sociedade, São Paulo, v.25, n.3, p.535-549, 2016.
GOES, Emanuelle Freitas; NASCIMENTO, Enilda Rosendo do. Mulheres negras e brancas e os níveis de acesso aos serviços preventivos de saúde: uma análise sobre as desigualdades. Saúde em Debate, Dez 2013, Volume 37 Nº 99 Páginas 571 – 579.
Downloads
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Caderno Sisterhood
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.